71,2% das menções espontâneas sobre a cannabis medicinal nas redes sociais são favoráveis ao uso da planta, revela monitoramento do Torabit realizado entre junho e agosto de 2021. O assunto entrou em discussão devido à aprovação do Projeto de Lei 399/15, que prevê a regulamentação do plantio de cannabis para fins medicinais, veterinários, científicos e industriais.
Os opositores, 20% das menções, se manifestam contra a maconha medicinal. Alegam que o plantio em solo brasileiro facilitaria o uso recreativo. Somente 8,8% das menções foram classificadas como neutras. São notícias ou comentários sem juízos de valor.
Se o monitoramento revela um sentimento favorável ao uso medicinal da maconha no Brasil, fica a dúvida:
O debate da maconha nas redes sociais influencia na agenda política?
Sidarta Ribeiro, neurocientista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, diz que o tema maconha medicinal no Brasil, “talvez seja a única pauta progressista que avançou nos últimos cinco anos”, graças ao alinhamento de interesse econômico, científico e clínico. Sidarta enfatiza que a maconha medicinal não deve ser fumada, e sim utilizada em medicamento, como nos casos de epilepsia, alzheimer, esclerose, autismo, depressão e dores crônicas. “A maconha está para a medicina do século 21, assim como os antibióticos estão para a medicina no século 20”, conclui o cientista, justificando a importância do debate mesmo em período de polarização política.
Dados gerais
Para a realização da pesquisa foi usada a plataforma Torabit. Foram coletadas 72 mil menções no período de 15 de maio a 15 de agosto, com o objetivo de entender a opinião do internauta sobre o assunto cannabis medicinal.
Gênero
O tema foi mais falado por homens – 60,4% das menções.
Hora e localidades
O assunto é mais falado às 13 e às 21 horas nas redes. O mapa mostra uma distribuição coerente das menções no Brasil, com um maior número de comentários na região Sul e Sudeste.
Tipos de menção
Nota-se que a maior parte das menções é de compartilhamentos (42,9%), isto é, retuítes de influenciadores digitais ou posts que viralizam. Em seguida, há opiniões de internautas nas discussões sobre o tema (24,5%), notícias (22,9%), relatos de pessoas sobre a cannabis medicinal (5,5%) e piadas (4,2%).
Nuvem de termos
Nota-se que o termo “medicinal” é a palavra com mais destaque. Termos do universo canábico também aparecem, como “maconha”, “cannabis”, “CBD” e “canabidiol”, mas vale destacar palavras como “comissão”, “399” e “PL”, que mostram que o tema está ligado aos acontecimentos políticos dos últimos tempos.
Assuntos mais falados
Para estudo dos assuntos mais falados foi feita uma análise quantitativa, com uma amostragem de 660 menções e uma margem de erro de 3,8% para mais ou para menos nos resultados. Os assuntos que mais se destacaram foram política e lei. Nota-se que a opinião em geral é favorável ao tema cannabis medicinal.
Política e leis
Constata-se que 67,2% de todas as menções sobre maconha medicinal na internet são destinadas ao assunto Política e 39,6% ao assunto Lei. O PL 399/15 ajudou no destaque dos assuntos, mesmo em um cenário político de polarização há um embate positivo sobre a maconha medicinal.
Menção a favor da cannabis medicinal:
Menção contra a cannabis medicinal:
Doenças Graves x Doenças Leves:
Por doenças graves, entende-se doenças como epilepsia, alzheimer, esclerose ou qualquer problema que afete a vida da pessoa de maneira brusca. Em doenças leves aparecem dores de cabeça, cólicas, falta de apetite, enjoo e dores musculares. Somadas as doenças, elas representam 16,8% das menções. Vale notar que no assunto doença o uso da cannabis medicinal é amplamente positivo, seja para casos simples ou graves. A internet é a favor do uso de cannabis medicinal em tratamentos.
Menção de doença/comorbidade grave:
Menção de doença/comorbidade leve:
Covid-19
Com o debate político acalorado, o assunto Covid também virou pauta, representando 4,6% das menções. No geral, as menções são favoráveis à maconha medicinal (77%). Criticam a “arbitrariedade” do governo, que oferece remédio sem comprovação científica para o tratamento da Covid, como a cloroquina, e “boicota” a viabilização de remédios com base em cannabis. Curioso notar o posicionamento de figuras como Arthur do Val, deputado conservador que hoje apoia a regulamentação da maconha medicinal.
Menção Covid-19 a favor da maconha medicinal:
Menção Covid-19 contra maconha medicinal:
Conclussão
Este estudo constata um sentimento favorável à maconha medicinal na internet brasileira. O PL 399/15 amplificou a discussão. Figuras que antes se opunham à cannabis medicinal, agora são favoráveis, como Arthur do Val (PATRIOTA), deputado de direita.
Quanto às doenças, tanto as leves como as graves, as menções são amplamente positivas, mostrando que há um coro favorável ao tratamento com derivados da cannabis.
Há críticas em relação à “arbitrariedade” do governo federal. Percebe-se também que a opinião favorável à maconha medicinal na internet beneficia o debate nas instâncias políticas, pois se antes a maconha era tratada como tabu, agora ela é também um fármaco que deve ser discutido e devidamente legislado.
Publicado no dia 24 de agosto de 2021