Estudo publicado no Valor Econômico em 14 de fevereiro de 2024.
A plataforma de monitoramento digital Torabit analisou as publicações sobre anistia e mudanças na Lei da Ficha Limpa, feitas por deputados federais, senadores e influenciadores favoráveis e contrários ao governo, entre os dias 1º de fevereiro e 12 de fevereiro. Foram coletadas menções nas redes sociais X, Instagram, Facebook e Bluesky.
Entre os deputados, a maior parte das publicações analisadas foi contrária às duas medidas, com parlamentares da esquerda abordando mais os temas do que os de direita. Assim, 57% dos posts foram contrários às medidas, enquanto 42% foram favoráveis.
Nas menções contrárias às medidas, uma das principais abordagens foi destacar que ambas seriam manobras para permitir que Bolsonaro, que está inelegível e foi denunciado pelos atos de 8 de janeiro de 2023, pudesse concorrer em 2026. Já entre os que defenderam as pautas, o destaque ficou principalmente por conta da anistia, argumentando que os condenados pelos atos de 8 de janeiro foram presos injustamente e que seria necessária uma anistia humanitária.
No Senado, ocorreu o contrário da Câmara, com os parlamentares de direita, predominantemente favoráveis à anistia e às mudanças na Lei da Ficha Limpa, realizando muito mais menções do que os senadores da esquerda. Assim, no Senado, 88% dos posts analisados foram favoráveis às medidas.
Já na análise das menções dos perfis de influenciadores governistas e de oposição, o total de publicações realizadas no período foi semelhante, sendo 266 contrárias às medidas, contra 250 favoráveis. A principal diferença ocorreu no total de interações geradas pelas menções, com os perfis de direita conseguindo mais de cinco vezes mais interações com seus posts sobre os temas do que os influenciadores de esquerda.
Entre os deputados federais, foram coletadas e analisadas 543 publicações sobre dois temas principais: a anistia para os presos e investigados pelos atos de 8 de janeiro de 2023 e as propostas de mudança na Lei da Ficha Limpa, que visam à redução do tempo de inelegibilidade. A maior parte das publicações realizadas por parlamentares da Câmara foi contrária às propostas, com pouco mais de 57% dos posts, enquanto as menções favoráveis ao tema somaram mais de 42% do total.
Foram registradas duas publicações consideradas neutras no período, ambas do deputado Arthur Maia (União), nas quais ele menciona a questão da anistia, mas sem deixar claro seu posicionamento sobre o tema.
Na análise das menções contrárias às medidas, feitas predominantemente por parlamentares governistas, destacam-se termos como “Bolsonaro” e “inelegível”, com o argumento de que ambas as propostas visam possibilitar que o ex-presidente, atualmente inelegível e denunciado pelos atos de 8 de janeiro, possa concorrer à presidência em 2026.
Além disso, também se destacam termos como “golpe”, “golpistas” e “democracia”, em referência principalmente à anistia dos presos de 8 de janeiro, e “corrupção”, este último mais relacionado a uma possível mudança na Lei da Ficha Limpa, que poderia enfraquecer o combate à corrupção.
Na nuvem de termos, o tamanho da palavra é proporcional à sua frequência nas menções sobre o tema.
Já entre as publicações de parlamentares favoráveis a ambas as medidas, predominantemente deputados de direita, destacam-se termos mais relacionados à defesa da anistia aos presos de 8 de janeiro, com palavras como “liberdade”, “condenado”, “injustamente” e “famílias”.
Além disso, os termos “Hugo” e “Motta” aparecem entre os mais frequentes, indicando que o novo presidente da Câmara foi amplamente citado entre os defensores da anistia. “Múcio”, em referência ao atual ministro da Defesa, que defendeu a anistia aos presos de 8 de janeiro, também esteve entre os termos mais mencionados.
Na nuvem de termos, o tamanho da palavra é proporcional à sua frequência nas menções sobre o tema.
Entre os parlamentares que mais publicaram sobre os temas, o destaque ficou para os deputados de esquerda. Os quatro com o maior número de menções foram Ivan Valente (PSOL), com 28 posts, seguido por Pastor Henrique Vieira (PSOL), Luizianne Lins (PT) e Chico Alencar (PSOL), todos com 20 publicações.
Na direita, o deputado que mais postou sobre os temas no período foi Mario Frias (PL), com 16 publicações.
Ao considerarmos os partidos dos parlamentares, a legenda que mais acumulou publicações foi o PL, com 174 menções, seguido pelo PT, com 160, e pelo PSOL, com 117 menções.
Chama a atenção o total de posts de deputados do PSOL, já que o partido conta com apenas 13 deputados federais, mas, ainda assim, foi responsável por mais de 21% do total de publicações sobre os temas.
Na análise do total de interações geradas pelas publicações dos deputados sobre os temas, observou-se um equilíbrio entre as menções favoráveis e contrárias às medidas. Enquanto os posts que defendem a anistia e as alterações na Lei da Ficha Limpa acumularam um total de 3.341.969 interações, as publicações contrárias às propostas somaram 3.245.393 interações no período analisado.
Os 10 deputados que, individualmente, mais geraram interações com suas publicações sobre os temas foram: Sâmia Bomfim (PSOL), Mario Frias (PL), Gustavo Gayer (PL), Zucco (PL), Carlos Jordy (PL), Guilherme Boulos (PSOL), Bia Kicis (PL), Pastor Henrique Vieira (PSOL), André Janones (Avante) e Chico Alencar (PSOL).
Já entre os senadores, o total de menções coletadas sobre os temas da anistia e das mudanças na Lei da Ficha Limpa foi consideravelmente menor, com apenas 75 publicações no período analisado.
Além disso, diferentemente do que ocorreu entre os deputados, no Senado a maioria absoluta dos posts foi favorável às medidas, evidenciando que os parlamentares de esquerda abordaram esses temas com muito menos frequência em comparação com a Câmara dos Deputados.
Assim, entre os senadores, 88% das publicações foram favoráveis às medidas, enquanto apenas 12% foram classificadas como contrárias.
Nas publicações favoráveis às medidas, destacaram-se posts sobre a anistia aos presos de 8 de janeiro, com ênfase em termos como “absurdas” e “revolta”, usados para classificar essas prisões. Além disso, o termo “pacificação” apareceu em posts que defendem que a anistia poderia ajudar a reduzir a polarização política no país.
Na nuvem de termos, o tamanho da palavra é proporcional à sua frequência nas menções sobre o tema.
Já nas menções contrárias à medida, destacaram-se termos como “golpe”, “golpistas” e “ditadura”, especialmente nos posts que abordavam uma possível anistia aos presos de 8 de janeiro.
Além disso, o termo “Ficha Limpa” também apareceu entre os mais frequentes, algo que não ocorreu nas menções dos senadores mais alinhados à direita.
Na nuvem de termos, o tamanho da palavra é proporcional à sua frequência nas menções sobre o tema.
Entre os senadores, quem mais publicou sobre o tema foi Flávio Bolsonaro (PL), com 15 posts no período, seguido por Carlos Portinho (PL), com 11 menções, e Jorge Seif (PL), com 9 publicações sobre o tema.
Na análise dos partidos dos parlamentares que publicaram sobre os temas, o PL teve destaque absoluto, sendo responsável por mais de 69% do total de menções entre os senadores. Na sequência, aparecem o PT, com 12%, e o União, com mais de 10% das publicações.
Considerando o total de menções feitas por cada grupo de parlamentares no Senado, a soma das interações das publicações favoráveis às medidas foi muito maior do que a dos posts contrários. Assim, enquanto os posts favoráveis aos temas acumularam 915.430 interações no período, os contrários somaram apenas 27.044 interações.
Entre os 10 senadores que mais geraram interações em suas publicações sobre os temas, 8 são da direita. São eles: Flávio Bolsonaro (PL), Sérgio Moro (União), Rogério Marinho (PL), Jorge Seif (PL), Eduardo Girão (Novo), Jaime Bagattoli (PL), Luis Carlos Heinze (PP) e Marcos do Val (Podemos).
Os dois parlamentares de esquerda que aparecem na lista são Humberto Costa (PT) e Fabiano Contarato (PT).
Entre os influenciadores digitais favoráveis ao governo, que fazem parte da lista de perfis monitorados pelo Datatora, foram coletadas 266 publicações sobre anistia ou mudanças na Lei da Ficha Limpa durante o período analisado.
Entre os termos mais recorrentes nessas publicações, “Bolsonaro” e “bolsonaristas” aparecem com frequência, já que, entre esse grupo, prevalece o argumento de que as medidas seriam uma forma de permitir que o ex-presidente concorra em 2026.
Além disso, os termos “Hugo” e “Motta” também se destacam, indicando que o novo presidente da Câmara dos Deputados foi amplamente citado pelo grupo.
Por fim, há termos como “golpistas” e “ditadura”, mais relacionados à tentativa de anistiar os presos de 8 de janeiro, e “corrupção” e “inelegibilidade”, mais ligados às propostas de mudança na Lei da Ficha Limpa.
Na nuvem de termos, o tamanho da palavra é proporcional à sua frequência nas menções sobre o tema.
Entre os perfis com mais publicações no período analisado, destacam-se Revista Fórum, com 83 posts, Brasil 247, com 56, e Diário do Centro do Mundo, com 49 menções aos temas.
Ao todo, as publicações dos influenciadores governistas analisadas somaram 587.347 interações, com destaque para o perfil do Instagram do Pragmatismo Político, que foi o que mais acumulou interações sobre o tema no período analisado.
Já entre os perfis monitorados de influenciadores contrários ao governo, foram analisadas 250 menções aos temas no período, um número semelhante ao total coletado entre os influenciadores governistas.
Entre os termos mais recorrentes nessas publicações, destacam-se “Câmara”, “Hugo” e “Motta”, indicando que o grupo citou com frequência o novo presidente da Câmara dos Deputados, principalmente ao tratar da anistia.
Além disso, termos como “presos” e “humanitária” também apareceram com destaque, evidenciando a maneira como os condenados pelo 8 de janeiro foram mencionados.
Quanto à Lei da Ficha Limpa, a discussão girou principalmente em torno do termo “inelegibilidade”.
Na nuvem de termos, o tamanho da palavra é proporcional à sua frequência nas menções sobre o tema.
Entre os perfis com mais menções no período, o destaque ficou para o Jornal da Cidade Online, com 28 publicações, seguido pela Revista Oeste, com 25, e pelo Conexão Política, com 18 posts.
A soma das interações geradas pelos influenciadores de direita foi consideravelmente maior do que a dos influenciadores governistas no período analisado. As publicações dos perfis contrários ao governo sobre os temas acumularam 2.892.214 interações, mais de cinco vezes o total obtido pelos influenciadores de esquerda.
O perfil de maior destaque entre os influenciadores de direita no período foi o Instagram do Conexão Política.
O Datatora Política é um produto da plataforma de monitoramento digital Torabit, que coleta publicações de perfis da política brasileira nas redes sociais. São monitorados 513 deputados, 81 senadores, além de perfis dos Poderes Executivo e Judiciário e de influenciadores digitais favoráveis e contrários ao governo.
As redes monitoradas são Facebook, Instagram, Twitter, YouTube e Bluesky.
Publicado no dia 14 de fevereiro de 2025