Em 21 de janeiro é celebrado o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa e o Dia Mundial da Religião. O objetivo é alertar a população para os perigos da discriminação e do preconceito religioso.
E, por falar em perigos, 2023 começou com desentendimentos, fomentados pela troca do governo Bolsonaro para o Lula. Tanto religiões de matrizes africanas foram atacadas quanto as do segmento evangélico.
O TORABIT fez um estudo sobre o que foi falado em relação ao combate à intolerância religiosa nas redes sociais. Ao todo, foram analisadas 16 mil menções em janeiro, com o objetivo de entender a opinião do brasileiro quando ele trata do tema nas redes.
O clima é, sem dúvida, de muita discussão. 67,2% das menções obtiveram teor negativo – discussões e relatos de intolerância – enquanto somente 32,8% das menções ressaltaram mensagem de conscientização, tolerância e combate à descriminalização.
NEGATIVO – Foram consideradas assim as ações que buscam tornar negativa a percepção sobre o tema: desabafos, discussões, relatos de intolerância religiosa, notícias sobre violência; comentários ofensivos, xingamentos etc.
POSITIVO – São os comentários que suscitam uma discussão positiva sobre o tema, como campanhas de conscientização religiosa, relatos de superação, mensagens de respeito e de apoio.
Positivo
Duas vertentes religiosas se destacaram nos debates nas redes sociais: o Cristianismo, com a corrente neopentecostal e católica (65,2%) e religiões de matriz africana, como Candomblé e Umbanda (26,9%).
Relacionado ao tema, as outras religiões e crenças somadas representam 7,9% das menções, são elas: Espiritismo (2,6%), Islamismo (1,6%), Judaismo (1,3%) e Budismo (0,7%). Aqui se incluiu também o Ateísmo (1,6%), uma ausência de crença.
Quando se fala de intolerância religiosa, as igrejas protestantes neopentecostais são as mais citadas (89,3%) em comparação à católica (10,7%). Já o sentimento em relação ao cristianismo ficou polarizado; 50,3% de menções foram positivas (discursos de reconciliação e união) e 49,7% de menções negativas (discursos de ódio e intolerância).
A base bolsonarista sustenta o seguimento cristão nas redes, que denuncia atos de violência e intolerância religiosa por parte da esquerda, como os comentários ofensivos contra a religiosidade de Regina Duarte e Cássia Kis. Conservadores também reclamam do que chamam de intolerância contra cristãos e a ascensão de religiões de matriz africana com o novo governo.
Bolsonaristas também são criticados por se apoiarem em temas religiosos, para falar de política e justificar atos de manifestações.
Em contrapartida, há pessoas que dizem não existir intolerância contra cristãos no Brasil, por ser um país laico e de maioria cristã. Houve a acusação de intolerância religiosa por parte de Michele Bolsonaro, que supostamente deixou uma obra da Virgem Maria, do século XIX, trincada e depositada no chão da Alvorada. A saída da ex-ministra Damares Alves do governo também foi comemorada, figura ligada à ala evangélica bolsonarista.
Palavras mais relacionadas: preconceito, intolerância, religioso, ódio, fundamentalismo, representa, passado, machismo, oposto, Damares, reacionário, evangélico, vídeo, polícia, religião, cristão, imagem, cristianismo.
Menções ligadas a religiões de matriz africana representaram 27% das postagens sobre intolerância religiosa. O alto volume de comentários vinha associado a menções políticas.
Percebeu-se que 71,4% das menções foram negativas, relatos de intolerância religiosa, xingamentos e abusos. 28,6% foram positivas, com notícias, comentários e compartilhamento em defesa das religiões afro-brasileiras.
A ala conservadora associa a posse de Lula com “macumba” e “Exu”, uma tática para causar medo no eleitorado critão. Mas nota-se também uma mudança de paradigma no governo Lula, que sancionou lei que cria o dia nacional para candomblé e raízes africanas para 21 de março.
Outros temas que entraram em discussão em janeiro foram a estátua de Iemanjá que teve a cabeça arrancada em praia de Santa Catarina e a crítica ao MC Cabelinho por fazer homenagem a Oxóssi em show. Parte do público saiu em defesa do cantor nas redes.
O presidente Lula (49,2%) e o ex-presidente Bolsonaro (50,8%) praticamente empataram em porcentagem de menções relacionadas ao seus nomes com o tema Combate à Intolerância Religiosa.
Bolsonaro foi lembrado por retirar do Planalto o quadro da artista brasileira Djanira da Motta Silva, que retrata três divindades africanas, acusado nas redes de intolerância religiosa. A primeira-dama Janja diz que o quadro voltará ao Planalto.
Por sua vez, Lula assinou uma lei que diz ser crime tentar fechar igrejas e atacar locais de culto, ganhando destaque nas redes por parte de apoiadores e mídia.
No mês de janeiro, Política foi o tema que mais repercutiu quando se falou de Intolerância Religiosa nas redes sociais. Bolsonaristas alegam que os atos do dia 8 não foram terroristas, pois não tiveram como meio o preconceito de raça, cor, etnia e religião.
Já opositores, dizem que o fundamentalismo religioso evangélico ajudou a engajar os apoiadores de Bolsonaro. Outros temas dentro de política (62,2%):
Em Relato e Denúncia, internautas comentam situações de vandalismo contra figuras santas, abordagem contra pessoas pregando o evangelho, ou relatos gerais de intolerância religiosa vivida no dia-a-dia (16,4%).
Em Desabafo foram classificados comentários mais amenos, sobre opiniões, desabafos e discussões gerais sobre o tema. Nota-se aqui o desejo das pessoas em ser compreendidas por meio de sua crença (13%).
Também foram monitoradas piadas contendo a temática. Há uma mescla de conteúdos de humor “inofensivo” sobre o tema, assim como piadas direcionadas a grupos religiosos (3,6%).
Em menor porcentagem, Notícias (3%) e Campanha de Conscientização (1,8%) com conteúdos mais informativos, geralmente relacionados a ações públicas, de empresas e de marcas.
Desabafo
Piadas
O público masculino da região Sudeste foi o que mais comentou sobre o tema Combate à Intolerância religiosa nas redes. A maioria das menções foi feita por internautas nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro.
Notou-se que 18 horas é o pico de menções, assunto que é mais falado no final da tarde e no começo da noite.
O tuíte do ex-vice presidente General Mourão, minimiza os atentados do dia 8 na Praça dos Três Poderes. Diz que “terrorista é aquele praticado por xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia ou religião. Nenhuma delas foi a força motriz que motivou os acontecimentos de Brasília”.
Nota-se também a presença de personalidades da ala conservadora dizendo o mesmo, como Leandro Ruschel e Brom Elisa.
Obtendo bastante repercussão, Danilo Gentili deu declarações polêmicas, perguntando até onde vai o limite do humor ao fazer piadas xenófobas e de intolerância religiosa, “(…) dependendo de quem acata a denúncia, termina em cana”.
Jornalistas e jornais também se destacaram ao falar sobre o tema, como Reinaldo de Azevedo, Guga Noblat, Estadão, Globo News, UOL etc.
Percebeu-se como o comentário do ex-presidente Hamilton Mourão, mobilizou um base conservadora que defende os ataques em Brasilia, alegando não existir terrorismo por não agredir nenhuma minoria etnica e religiosa.
Apesar de temas políticos terem representado 62,2% das menções sobre a Intolerância Religiosa, um grande volume de menções não são postagens orgânicas, e sim compartilhamento de posts conservadores.
Houve também compartilhamento de notícias e denúncias de intolerância, mas estas menções estão pulverizadas nos círculos de amigos, comentários esparsos e pequenos grupos de discussão.
O debate sobre Combate à Intolerância Religiosa existe, mas nota-se como certas figuras conservadoras pautaram o mesmo. Em meio a uma enxurrada de compartilhamentos, vê-se o embate com comentários de pessoas que discutem religião e defendem sua fé.
Publicado no dia 21 de janeiro de 2023