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São Paulo, 21 de outubro de 2024.
Da central de análise e conteúdo do Torabit.
Estudo realizado a pedido do jornal Valor Econômico e publicado em:
https://valor.globo.com/politica/eleicoes-2024/noticia/2024/10/22/60-das-mencoes-a-nunes-sobre-apagao-sao-negativas.ghtm

Apagão: Debate Político e Busca por Culpados Dividem Redes Sociais

Entre os dias 11 e 21 de outubro, a plataforma de monitoramento digital Torabit analisou aproximadamente 25 mil menções nas redes sociais (Facebook, Instagram, Bluesky e X) sobre a queda de energia que atingiu São Paulo após uma tempestade no final do dia 11 de outubro e a conexão com as eleições municipais da cidade. A análise revelou que o debate online foi fortemente influenciado por questões políticas e pela busca por culpados.O monitoramento focou em identificar menções relacionadas aos principais atores políticos envolvidos no segundo turno das eleições à prefeitura de São Paulo: Guilherme Boulos (candidato do PSOL), Ricardo Nunes (atual prefeito e candidato à reeleição pelo MDB), o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos e apoiador de Nunes), Jair Bolsonaro (PL e apoiador de Nunes), e o governo federal sob Lula (PT, apoiador de Boulos). Os resultados mostraram uma população frustrada e confusa sobre quem deveria ser responsabilizado pelo apagão, com uma forte tendência a politizar o tema, ignorando as causas estruturais da crise energética.

Nuvem de termos do monitoramento – o tamanho da palavra é proporcional à frequência nos resultados da busca.

Divisão das menções para cada um no período:

Nunes: 46%, Boulos: 25%, Tarcisio: 3,6%, Bolsonaro: 7%, Lula: 16%.
66% das menções foram feitas por homens e 34% por mulheres.

A análise indicou um sentimento generalizado de insatisfação, principalmente em relação a Ricardo Nunes, que foi criticado por sua lentidão em restabelecer a energia e por sugerir uma taxa para cobrir os prejuízos causados pela falta de luz. As críticas a Nunes também incluíram a falta de poda das árvores e a ineficácia da gestão da cidade em preparar-se para situações climáticas severas.

Boulos e Lula também foram alvo de críticas, mas Nunes concentrou a maior parte da frustração pública. Além disso, Jair Bolsonaro apareceu na discussão não apenas por seu apoio a Nunes, mas também por ter indicado a maior parte dos diretores da ANEEL, agência responsável pela fiscalização da Enel, durante seu mandato. Os quatro diretores atuais da ANEEL foram nomeados por Bolsonaro, e essa relação foi citada por muitos usuários nas redes.

Sentimentos associados a cada ator:

  • Boulos: 23% positivo, 24% negativo, 53% neutro
  • Nunes: 18% positivo, 60% negativo, 22% neutro
  • Tarcísio: 29% positivo, 50% negativo, 21% neutro
  • Bolsonaro: 25% positivo, 56% negativo, 19% neutro
  • Lula: 27% positivo, 46% negativo, 27% neutro

Exemplo de post destacando a situação: “Ricardo Nunes quer que o paulistano pague pelos prejuízos causados pela Enel e pela Prefeitura. Isso é um absurdo! Como ele espera que aceitemos essa proposta?”

O debate nas redes se intensificou com as críticas à ANEEL e ao governo federal. Muitos usuários culparam a promessa de renovação do contrato da Enel pelo governo de Lula, sem exigir melhorias significativas, enquanto outros acusaram a agência reguladora de não agir preventivamente. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, também foi vocal sobre o papel da ANEEL, criticando a falta de ações para revogar a concessão da Enel, que já havia sido solicitada há um ano. A ANEEL foi duramente criticada nas redes por sua omissão.

Exemplo de posts:

  • “Apagão em São Paulo é culpa de Lula, que renovou o contrato da Enel sem exigir melhorias. Nunes e Tarcísio estão com as mãos atadas.”
  • “Se a Sabesp privatizada falhar como a Enel, São Paulo vai ficar sem água também. Privatizam e depois somem com a responsabilidade.”

Essa narrativa de responsabilização foi explorada durante todo o período de análise, com grupos de direita associando o apagão à gestão de Lula e de Boulos, enquanto grupos de esquerda destacavam a ineficiência das administrações municipal e estadual. Bolsonaro também foi mencionado devido às nomeações na ANEEL, intensificando as críticas à agência. A polarização entre os dois lados politizou ainda mais o debate.

As menções se concentraram entre os dias 11 e 15 de outubro, quando o debate alcançou seu auge, seguido por uma desaceleração gradual. A distribuição das menções ao longo dos dias reflete a evolução do debate:

  • Dia 11: 1,89%
  • Dia 12: 11,16%
  • Dia 13: 18,65%
  • Dia 14: 22,02% (maior pico e dia do debate da Band)
  • Dia 15: 13,56%
  • Dia 16: 8,71%
  • Dia 17: 6,01%
  • Dia 18: 4,24%
  • Dia 19: 5,20%
  • Dia 20: 4,29%
  • Dia 21: 0,67%

No início, as postagens se concentravam em críticas à falta de preparo da prefeitura e à Enel. No entanto, com o passar dos dias e a demora no restabelecimento da energia, o debate evoluiu para uma discussão mais politizada, com usuários buscando culpados entre os diferentes níveis de governo.

Exemplo de posts no início da crise:

  • “Ventou e choveu demais e caíram muitas árvores, mas isso acontece todo ano! Quando Nunes vai fazer algo além de culpar as árvores?”
  • “Eu quero Ricardo Nunes preso e a Enel pegando fogo! Toda chuva agora é a maior cidade do país sem luz.”

À medida que os dias passavam, a crise de energia foi ganhando novas camadas. A privatização da Enel e a falta de fiscalização por parte da ANEEL tornaram-se temas recorrentes. A prefeitura de São Paulo foi criticada por não realizar as podas de árvores que poderiam ter evitado parte dos estragos causados pela tempestade.

Exemplo de post:

  • “O problema não é a privatização em si, mas quem controla as empresas privatizadas. Quando foi que Lula cobrou da Enel os investimentos que deveriam ter sido feitos?”

Ricardo Nunes tentou distanciar-se da culpa, jogando parte da responsabilidade no governo federal, mas sofreu críticas por sua administração não ter realizado manutenções preventivas. Guilherme Boulos utilizou esse argumento em sua campanha, acusando Nunes de negligência.

Exemplo de post durante o auge da crise:

  • “Mais de 300 mil famílias não estão podendo assistir a esse debate porque estão sem luz. Esse apagão tem dois grandes responsáveis: a Enel, que presta um serviço horroroso, e Ricardo Nunes, que não fez o básico.”

A crise foi utilizada estrategicamente por ambos os lados. Grupos de direita compartilharam mensagens associando o apagão ao governo federal, enquanto grupos de esquerda destacaram a ineficiência das administrações municipal e estadual. A polarização transformou o episódio em mais uma ferramenta de campanha política nas redes.

Exemplo de post:

  • “A culpa pelos apagões é da Enel, indicada por Bolsonaro. Lula não pode nem demitir o diretor da ANEEL, então a responsabilidade não é dele.”

Por outro lado, alguns usuários expressaram cansaço com o debate ideológico, indicando que, independentemente de quem fosse o culpado, o desejo era ver a energia restaurada e o problema resolvido.

Exemplo de post ao final do período:

  • “Não me importa se é culpa do Nunes, do Lula ou da Enel. Eu só quero a luz de volta e que alguém resolva o problema de verdade!”

A polarização que dominou o debate público nas redes mais uma vez mostra que questões estruturais ficam em segundo plano. Com o segundo turno das eleições à vista, o episódio continua sendo explorado como um símbolo de ineficiência administrativa, mas sem respostas efetivas para as questões energéticas que afetam diretamente a população.

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Torabit

Publicado no dia 23 de outubro de 2024